terça-feira, 28 de agosto de 2012

NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNITÁRIO

NUTRIÇÃO E SISTEMA IMUNITÁRIO

O sistema imunológico é aquele responsável pela imunidade, aquele que determina a defesa do indivíduo contra agentes agressores. Anatomicamente é constituído por dois sistemas: monocítico-macrofágico ou fagocítico mononuclear; e linfocítico ou linfocitário. Por esse motivo é referido como sistema linfocítico-macrofágico. O sistema monocítico-macrofágico atua com uma vigília constante para o hospedeiro. Perante agentes estranhos como microorganismos intracelulares e células neoplásicas, as células deste sistema realizam quimiotaxia, fagocitose e sintetizam citocinas. Promove ainda a apresentação de antígenos ao sistema linfocítico e muitas das células linfocíticas só são ativadas mediante esta apresentação antigénica. O sistema linfocítico tem como funções mais importantes a vigilância, uma defesa específica mediada por mecanismos complexos, a produção de citocinas e uma memória imunológica para o agente agressor que pode perdurar vários anos. A resposta imunológica é o mecanismo através do qual o organismo reconhece e reage à substância que considera estranha. A resposta imune é mediada por uma variedade de células e moléculas solúveis que estas células secretam com a capacidade de reconhecer especificamente e eliminar uma variedade ilimitada de agentes invasores. As células da resposta imunológica têm origem em células hematopoiéticas pluripotentes que se encontram na medula óssea. As diferenciações posteriores ocorrem não só aí como também noutros locais específicos do organismo.
As células da resposta imunológica oriundas de células primordiais da medula óssea dão origem à linhagem linfóide e à linhagem mielóide, ambas independentes quanto às células a que darão procedência. A célula primordial linfóide, na presença de interleucina 3 e 7 do estroma da medula óssea origina os linfócitos. Da linhagem mielóide, na presença de interleucina-3 provêm os monócitos, macrófagos, mastócitos, basófilos, eosinófilos, plaquetas e neutrófilos – células estas de grande importância no desenvolvimento de uma resposta imunológica.
 As populações leucocitárias incluem os granulócitos polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos e basófilos), os monócitos, macrófagos e os linfócitos (linfócitos T, B e células NK.
Linfócitos com origem na célula progenitora linfóide da medula óssea dirigem-se ao timo ou permanecem na medula originando linfócitos T e B, respetivamente.
A resposta imunitária ativa ocorre quando o organismo recebe substâncias estranhas ou antígenos que determinam uma reação imunológica (exemplo das vacinações ou imunizações). Na resposta passiva são recebidos produtos da resposta imunológica com origem nos linfócitos B ou T. Na resposta imunológica inata ou inespecífica o organismo responde sempre do mesmo modo, qualquer que seja o agressor, não determinando uma imunidade permanente.
 Os componentes da resposta inata, que já existem ao nascimento e não se modificam com o tempo, são formados pela barreira mecânica, fagócitos que atuam por meio de quimiotaxia seguida por fagocitose, sistema complementar e células NK.
A resposta imunológica adaptativa, específica ou adquirida, desenvolve-se com a idade, sendo necessário um contato com o antígeno para a sua aquisição. A resposta adaptativa ocorre quando a inata é insuficiente para destruir o agente agressor. A resposta adaptativa dá-se pela imunidade humoral e celular. Na defesa humoral, as proteínas plasmáticas, as Ig, sintetizadas por linfócitos bursa equivalentes, diferenciados em plasmócitos, são os principais responsáveis. A resposta adaptativa celular dá-se por ação direta de células, os linfócitos timo-dependentes (T). Os linfócitos T são responsáveis pela imunidade celular, enquanto os B produzem anticorpos, constituindo, deste modo, a imunidade humoral.
É no tecido linfóide periférico que ocorrem as melhores hipóteses dos linfócitos T encontrarem antígenos. Depois da fase de amadurecimento no timo, essas células, já imunocompetentes, circulam entre a corrente sanguínea e o tecido linfóide periférico até encontrarem o antígeno específico. Nesse momento, são induzidas a proliferar e a se diferenciarem em células T efetoras.
No timo, os linfócitos ao adquirirem determinadas características transformam-se em linfócitos T. Estas células fazem parte da resposta imunológica celular e proliferam quando estimuladas pela IL2 ou concanavalina A.
Apesar de não sintetizarem Ig, os linfócitos T atuam como moduladores da resposta imunológica. Essa resposta dá-se através da interação entre os vários tipos de linfócitos T com os macrófagos e as células dendríticas durante a resposta imunológica mediada por células. Os linfócitos B atingem a maturidade possivelmente na medula óssea e são precursores das células produtoras de anticorpos, os plasmócitos.
Os linfócitos presentes na circulação nos tecidos linfóides  encontram-se em estado quiescente, situação na qual se apresentam metabolicamente pouco ativos. Contudo, a ativaçáo dessas células é possível com um estímulo invasivo ou neoplásico, levando-as a proliferar e a secretar citocinas envolvidas na resposta imune as quais vão facilitar o fluxo dos vários tipos de leucócitos para o local atingido.
As citocinas são proteínas sintetizadas e libertadas por células ativas na resposta imune inata e adaptativa, como fagócitos mononucleares e linfócitos. Estas moléculas estão envolvidas na comunicação inicial entre a resposta imune inata e a adaptativa. Podem, deste modo, agir no crescimento, diferenciação, ativação celular, atividade citolítica, apoptose, quimiotaxia na célula alvo, sendo ainda capazes de regular e determinar a natureza da resposta imune.. As citocinas podem ser produzidas por diferentes tipos celulares em resposta ao contato com microorganismos, antígenos, assim como pela presença e reconhecimento de outras citocinas. Deste modo, a presença de citocinas e seu reconhecimento por células alvo podem levar a uma alteração da sua expressão génica promovendo a capacidade de exercer novas funções, podendo, ainda, induzir a proliferação descontrolada destas células.
A inflamação é o resultado dos vários mecanismos da resposta imunológica na tentativa de manter a homeostasia do organismo e recuperar os tecidos lesados. É, deste modo, o resultado da ativação da resposta inata ou da inata conjuntamente com a adaptativa .
O NO é um mediador que regula as respostas imunes humorais e celulares na inflamação, detendo propriedades antiinflamatórias e pró-inflamatórias, dependendo do tipo e da fase da inflamação. Citocinas secretadas por linfócitos ativados regulam a síntese de NO pelos macrófagos. O NO é produzido em muitos tecidos pela enzima óxido nítrico sintetase (NOS) durante a transformação catalítica da L-arginina em citrulina. O NO produzido por macrófagos tem um papel essencial nos processos imunológicos antitumorais, antimicrobianos e anti-virais.
Ao contrário de outros mensageiros químicos, o NO não depende da sua estrutura para se ligar a um receptor ou enzima, mas antes da sua reatividade redox. No sistema imunológico o óxido nítrico é produzido em grandes quantidades durante a resposta inflamatória por macrófagos e outras células do sistema imunitário as quais expressam a isoforma induzível (ou tipo II) da NO sintase (NOS). O NO formado desta forma conduz a danos oxidativos letais às células-alvo, como é o caso das células cancerosas ou bactérias.
As ROS podem lesar o tecido do hospedeiro especialmente na proximidade do local inflamatório. Existem relatos sobre o seu envolvimento em danos a tecidos associados a várias doenças, incluindo o cancro.
Ensaios de libertação de citocinas, de NO e de peróxido de hidrogénio em cultura de macrófagos facultam importantes dados sobre a modulação imunológica ou capacidade citotóxica consoante a sua concentração.
O NO foi descoberto como uma ativa molécula biológica há mais de duas décadas e tem sido reconhecido como um dos mais versáteis componentes do sistema imunológico. É um gás altamente permeável a membranas que têm uma atuação importante na inflamação, defesa antimicrobiana e angiogénese. Está envolvido no controlo de doenças infecciosas, autoimunidade, doenças degenerativas crónicas e cancro. Tem demonstrado um forte potencial para se transformar de um indispensável regulador do sistema imunológico para um perigoso destruidor.
O NO quando produzido por macrófagos é microbicida, pode ser tóxico ao microorganismo fagocitado quando combinado ao peróxido de hidrogénio e convertido a peroxinitrito dentro dos fagolisossomos. A síntese do NO é catalizada pela enzima óxido nítrico sintase (NOS).
O crescimento tumoral associado com a inflamação é dependente da ativação endotelial e da infiltração de leucócitos induzidos pelas citocinas geradas pelo endotélio ativado. Verificou-se que a inflamação influencia no desenvolvimento do cancro, uma vez que a NOS é incitada por citocinas inflamatórias a produzir NO, mediador fundamental na resposta imune.
Os macrófagos são células do sistema de fagócitos mononucleares, sendo a sua principal função a fagocitose. Estas células têm origem na medula óssea, circulam pelo sangue como monócitos e, posteriormente, são direccionadas para vários tecidos. Uma vez nos tecidos estas células amadurecem e se tornam macrófagos. São distribuídos nos mais variados tecidos presentes em diferentes órgãos recebendo nomes distintos consoante a sua localização. Macrófagos residentes apresentam funções e características diferentes do local onde se encontram. Deste modo os macrófagos encontram-se estrategicamente posicionados em todos os locais onde microorganismos podem entrar no hospedeiro, podendo iniciar-se o processo de fagocitose, mediado por receptores específicos expressos na superfície destas células. No fagolissomo os macrófagos produzem intermediários reativos de oxigénio e nitrogénio com a finalidade de eliminar a partícula estranha. Produzem citocinas da imunidade inata, produção de fatores de crescimento de fibroblastos, de fatores angiogénicos e de metaloproteinases para remodelagem tecidual. Fazem ainda a degradação de proteínas e processamento de antígeno para apresentação às moléculas do Complexo Principal de Histocompatibilidade  (MHC), para que as células T possam reconhecer as substâncias estranhas ao organismo.
Um dos mecanismos utilizados por células fagocíticas, como neutrófilos e macrófagos, para eliminar microorganismos invasores é o processo conhecido como burst respiratório. Este é caracterizado pelo acentuado aumento no consumo de oxigénio e de libertação de ROS. O burst respiratório pode ser estimulado no processo de fagocitose, devido à opsonização de microorganismos e peptídeos que mimetizam parte de alguma proteína bacteriana como por exemplo o lipopolissacarídeo. O fagócito utiliza os receptores de superfície para se ligar a um microorganismo formando uma vesícula chamada fagossomo. Os receptores de superfície libertam sinais que estimulam a fusão dos fagosomos com os lisossomos e sinais que promovem a atividade microbiana. Tal fenómeno desencadeia o burst respiratório e a produção de NO com a finalidade de destruir e eliminar as substâncias fagocitadas, assim como os invasores.
Macrófagos e monócitos produzem o TNF-αque é uma citocina multifuncional com funções centrais na inflamação aguda ou crónica, na resposta antitumoral, pela qual induz à morte apoptótica.
Ensaios de libertação de ácido nítrico em cultura de macrófagos fornecem importantes dados sobre a modulação imunológica ou capacidade citotóxica, dependendo da sua concentração. Elevados níveis de produção de Fator de Necrose Tumoral-alfa (TNF-α) e óxido nítrico (NO) refletirão o potencial de estimulação imunológica e o excesso pode contribuir para a indução de patologias inflamatórias.
Os sistemas biológicos, nos quais se inclui o sistema imunológico, precisam de ser regulados. Logo que a resposta imune é iniciada, vários mecanismos devem existir para controlar a extensão dos seus efeitos modulando-a. O termo imunomodulação pode definir-se como uma alteração da resposta imunológica ou da função do sistema imune, através da ação de agentes estimulantes ou supressores.
Várias plantas medicinais demonstraram atuar na via do NO. Estima-se que flavonóides, taninos e outros constituintes fenólicos induzam a formação de NO nas células endoteliais, melhorando a circulação, enquanto outros compostos suprimem a indução de óxido nítrico sintase nas inflamações e infeções.

 Maria Ferreira
(Nutricionista e Fitoterapeuta)
geral@nutriauri.pt

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